
Você se vê com 15 anos e com uma certeza que parece solucionar o maior de seus problemas até então: Já sei qual profissão seguir, já sei o que quero ser, o que prestar vestibular!! Vou ser JORNALISTA.
Olha, parando para pensar friamente era melhor que não soubesse e escolhesse uma profissão aleatória, ou seguisse algo que seus pais, tios e primos sugerissem.
Ok, confesso que sou fascinada, apaixonada e iludida com essa profissãozinha cruel. Jornalismo é uma profissão para poucos. Principalmente se você mora em uma região monopolizada por uma empresa jornalística, se você não foi puxa-saco de professor, se você não tem nenhum parente, amigo, conhecido ou qualquer pessoa com credibilidade alta que possa te dar um bom empurrão no início.
Nunca me iludi com o fato de que seria fácil seguir a carreira jornalística. Sabia de todas as dificuldades. Até aí, beleza.
O que não imaginava era a demora, quanto mais o tempo passa mais me desespero e começo a pensar que talvez o jornalismo não seja para mim. Por mais que seja difícil assumir isso. Por mais que não saiba nem por onde recomeçar, para onde seguir, que outra profissão escolher?
Sim, porque não consigo me ver fazendo nada fora desse universo louco! Essa paixão platônica não me larga. Só quem já experimentou um pouco do gosto da adrenalina do dia a dia como jornalista, sabe do que estou falando. Aquele frio na barriga quando se vê com uma pauta bacana nas mãos, a loucura atrás das fontes, checar as informações, esperar a resposta que será tão importante para a matéria, a foto perfeita, o título, linha fina, lead, depois de toda a loucura ver o texto pronto, a matéria ali na sua frente, concluída, ufa! A sensação de dever cumprido, de escrever um pedacinho da história, de eternizar um fato, um momento...
Pois é, mas estamos falando de uma profissão bem traiçoeira! Não se iluda.
Daí você se forma, depois de toda a loucura e esforços você está formado. Mesmo que seu diploma não valha, absolutamente, mais nada, você está ali graduado, feliz da vida e aí começa a caçada por uma oportunidade.
E começa o sofrimento...
Sim, as melhores vagas estão fora da sua cidade, ou então, pedem que além de ser recém-formado você também JÁ possua outros inúmeros cursos de especialização, idiomas, experiência e bla bla bla.
Cobram milhares de coisas e oferem um salário abaixo até mesmo do piso! Ou existem também as redações que trabalham em regime de escravidão camuflado, rodízio de repórter, após o tempo de experiência: "bye bye"
A busca continua você vê aquela vaga perfeita pra você, com todo os requisitos que você tanto sonhou: Jornal impresso, revista...economia...manda seu pobre currículo, aguarda, aguarda, aguarda...é.
O mercado cobra demais, exige demais, enquanto as universidades oferecem cada vez mais cursos descartáveis. Faculdades que, aparentemente, cumprem toda a grade exigida pelo MEC, porém, de qualquer jeito, poucos professores de qualidade, desinteressados em formar bons profissionais, só cumprem a carga horária e está tudo bem, tudo lindo!
Tive bons professores, alguns poucos grandes mestres. Poucos.
O pior não é isso, o pior é quando você vê aquela pessoa que durante 4 anos de curso junto com você mal frequentava às aulas, não tava nem aí com nada, escrevia um texto bem, mas bemmmmm meia boca, mal sabia falar decentemente: TRABALHANDO NA ÁREA e você não!!
Aí, sim, você se desespera, POR QUE, DEOOOSS???
Ok eu não arrumar nada na área, mas é muita sacanagem um idiota que você sabe que é um idiota conseguir, né?
Não é recalque, não é inveja, não! É revolta mesmo. Ira.
Não me arrependo de ter feito jornalismo, fiz o que quis, aquilo que escolhi, aquilo que tive vontade, que me faz sentir frio na barriga, que considero a mais empolgante, estimulante e fascinante das profissões.
Não sei o que o futuro me reserva, não sei se de fato serei uma jornalista, mas sei que tentei, busquei, me encantei e se pudesse voltar no tempo faria tudo novamente...
Tire a conclusão que quiser.
Não sei nem se esse texto faz sentido ou tem coerência. Mas tem horas que é preciso desabafar. Enfim.
"Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade. Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte."(Gabriel Garcia Marquez)